Luciane é casada há 11 anos com Clemilson dos Santos Farias, o Tio Patinhas, criminoso que chegou a figurar no topo da lista dos mais procurados da polícia do Amazonas. Ele foi preso em dezembro de 2022 e cumpre 31 anos no presídio de Tefé (AM).
Luciane, recebida por assessores de Dino, também foi condenada no mesmo processo que o marido — por lavagem de dinheiro, associação para o tráfico e organização criminosa —, mas recorre em liberdade. No Ministério da Justiça, foi recebida como presidente de uma ONG de defesa dos direitos dos presos do Amazonas.
Em nota aoEstadão, o Ministério da Justiça disse que as reuniões foram solicitadas pela Associação Nacional da Advocacia Criminal (Anacrim), com a presença de várias advogadas e que Luciane, mulher do líder do Comando Vermelho, “não foi a requerente da audiência, e sim uma entidade de advogados”.
“A presença de acompanhantes é de responsabilidade exclusiva da entidade requerente e das advogadas que se apresentaram como suas dirigentes”, diz a nota. “Sobre atuação do Setor de Inteligência, era impossível a detecção prévia da situação de uma acompanhante, uma vez que a solicitante da audiência era uma entidade de advogados, e não a cidadã mencionada no pedido de nota.”
Segundo oEstadão, Luciane costuma circular por Brasília acompanhada da advogada Camila Guimarães de Lima e da a ex-deputada estadual pelo Psol Janira Rocha (RJ).
A agenda da integrante do Comando Vermelho no ministério de Dino
Segundo oEstadão, Luciane esteve com Elias Vaz, secretário Nacional de Assuntos Legislativos de Flávio Dino, em 19 de abril. Em 2 de maio, ela se encontrou com Rafael Velasco Brandani, secretário Nacional de Políticas Penais (Senappen).
Nesse mesmo dia, Luciane esteve também com mais duas autoridades dentro do Ministério da Justiça: Paula Cristina da Silva Godoy, titular da Ouvidoria Nacional de Serviços Penais (Onasp); e Sandro Abel Sousa Barradas, diretor de Inteligência Penitenciária da Senappen. O nome dela não consta das agendas oficiais das autoridades. Todos esses assessores foram nomeados diretamente por Dino e são cargos de confiança dele.
Luciane relatou a visita às autoridades do ministério de Dino numa postagem no Instagram. Ela disse ter feito “denúncias de revistas vexatórias” no sistema prisional amazonense e afirmou ter apresentado um “dossiê” sobre “violações de direitos fundamentais e humanos” supostamente cometidas pelas empresas que atuam nas prisões do Estado.
“Em resultado destas reuniões o primeiro passo foi tomado em prol aos familiares visitantes de reclusos onde as revistas vexatórias estão em votação com maioria favorável para ser derrubada!”, escreveu a integrante do Comando Vermelho em seu perfil da rede social sem explicitar a qual votação se referia.
Crueldade de “Tio Patinhas” e crimes atribuídos a Luciane
O processo penal a que respondem Luciane e o marido, ao qual oEstadãoteve acesso, descreveu Clemilson como um “indivíduo de altíssima periculosidade, com desprezo à vida alheia”. O Ministério Público do Amazonas relata que o patrimônio dele veio do tráfico de drogas e costuma ser cruel com seus devedores, “ceifando-lhes a vida sempre que os crimes em que se envolve lhes torna credor”.
Sobre Luciane, o Ministério Público do Amazonas afirmou que ela atuou como o “braço financeiro” da operação do marido. “Exercia papel fundamental também na ocultação de valores oriundos do narcotráfico, adquirindo veículos de luxo, imóveis e registrando ‘empresas laranjas’.” Graças ao trabalho, ela “conquistou confiabilidade da cúpula da Organização Criminosa Comando Vermelho”, escreveu o procurador Mário Ypiranga Monteiro Neto, na denúncia apresentada em agosto de 2018.
A investigação também mostra que o patrimônio do casal do Comando Vermelho cresceu mais de 1.000% entre 2012 e 2015, depois que ela abriu um salão de beleza.
ONG atua na defesa de integrantes do Comando Vermelho
A ONG de Luciane, a Associação Instituto Liberdade do Amazonas (ILA), atua em prol dos detentos ligados ao Comando Vermelho. Criada no ano passado, a organização também seria financiada com dinheiro do tráfico, afirmou oEstadão, citando uma investigação sigilosa à qual teve acesso.
A ONG seria, portanto, apenas uma fachada usada pelo Comando Vermelho para “perpetuar a existência da facção criminosa e obter capital político para negociações com o Estado”. De acordo com trecho de uma investigação citado pelo jornal, as ações sociais feitas pela entidade seriam, ao fim, sustentadas pelo Comando Vermelho “com a arrecadação de seus membros”.
Revista Oeste
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