terça-feira, 30 de julho de 2019

Investigação da PF não aponta para invasão de terra indígena, diz MPF

Agentes da PF não viram 'indícios de conflitos'

O Ministério Público Federal (MPF) disse nesta segunda-feira (29) que as investigações preliminares da Polícia Federal (PF) não apontaram a presença de grupos invasores na terra indígena do povo Waiãpi, no Amapá.
Em entrevista coletiva, o procurador da República, Rodolfo Lopes, disse que ainda não está descartada a possibilidade de realização de novas diligências na região. A expectativa é de que a PF conclua até o final de semana o relatório sobre a suposta invasão de garimpeiros à terra indígena e sobre a morte do chefe da aldeia Waseity, Emyra Wajãpi, de 62 anos.
 
Cerca de 25 policiais da PF e do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar do Amapá, participaram da diligência realizada domingo (28). As lideranças indígenas relataram para as equipes de investigação que 15 invasores passaram uma noite na aldeia Yvytotõ, distante cerca de 300 quilômetros da capital, Macapá, de forma "impositiva" e "de posse de armas de fogo de grosso calibre". Durante a diligência, os policiais foram levados por lideranças indígenas aos locais onde teriam ocorrido as invasões. Lá marcaram os pontos com GPS e tiraram fotos.
“Até agora, as investigações preliminares não conseguiram apurar a presença de humanos [sic] na região. A Polícia Federal marcou as coordenadas, fez os vídeos e fotos e isso vai ser apresentado no relatório definitivo a ser apresentado pela polícia”, disse o procurador. “Nesses locais não há nem indícios de garimpo, de conflito ou de vestígios da presença humana, de não indígenas... pegadas, marcas de fogueira não há qualquer elemento específico...”, acrescentou Lopes.
De acordo com o MPF, as autoridades policiais informaram que não é descartada nenhuma hipótese sobre o homicídio. “Ainda vamos fazer uma reunião para situar como estão as investigações. As medidas a se tomar são diversas, isso vai depender da análise do que foi encontrado no local”, afirmou Lopes.
Segundo os relatos dos índios, Emyra Wajãpi foi morto na tarde de segunda-feira (22). Entretanto, a morte não foi testemunhada por indígenas e só foi percebida na manhã de terça-feira (23). Questionado se o MPF vai pedir uma perícia no corpo do cacique, o procurador disse que a decisão fica a cargo das PF.
 
“A perícia do corpo vai ficar a cargo das autoridades competentes, que vão analisar se é o caso de realizar uma perícia e vão entrar em contato com a lideranças indígenas”, disse.
Em nota, os Wajãpi disseram estar preocupados com a situação. Eles relataram que alguns indígenas estavam saindo das aldeias, com medo de invasão. “Nas aldeias desta região algumas famílias estão com medo de sair para as roças ou para caçar. Algumas comunidades saíram de suas aldeias, para se juntar com famílias de outras aldeias para se sentirem mais seguras”, diz a nota.
ONU
 
A alta comissária para os direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), Michelle Bachelet, disse que o assassinato do líder do povo indígena Wajãpi, no Brasil, “é trágico e repreensível por si só”. Ela destacou que a morte do líder indígena é “um sintoma perturbador do crescente problema de invasão de terras indígenas, especialmente florestas, por mineiros, madeireiros e agricultores” no país.
 
Bachelet criticou a proposta pelo governo brasileiro de abrir mais áreas da Amazônia para a mineração. Segundo a alta comissariada, a medida pode levar a incidentes de violência, intimidação e mortes na região. Segundo Bachelet, as autoridades precisam dar uma resposta rápida e levar à Justiça os responsáveis pela morte do cacique.
 
“É essencial que as autoridades reajam rapidamente e eficazmente para investigar este incidente e levar à justiça todos os responsáveis, em total conformidade com a lei”, disse Bachelet. “A proteção dos povos indígenas e da terra em que vivem tem sido uma questão importante em todo o mundo, não apenas no Brasil”, acrescentou.

 

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